quarta-feira, 12 de setembro de 2012

GRANDE LAGO.

 

É inevitável que vez ou outra na vida sejamos feridos pelas pessoas, principalmente pelas pessoas que amamos. Alguém nos engana, alguém nos trai, alguém nos trata com falta de respeito, desconsidera nossos sentimentos… O nosso peito é como um grande lago, suave, ladeado por flores, pássaros e todos os tipos de vegetações. Quando alguém nos fere, é como se uma pedra fosse jogada no lago... Tudo fica ondulado por alguns instantes, a superfície perde a limpidez, a água fica momentaneamente turva e o vento sopra de uma forma tão gélida que chega a doer. Mas depois de um tempo, o que naturalmente acontecerá? A pedra atirada ficará quieta em algum lugar lá no fundo do lago, uma prova de que vivemos intensamente, uma experiência de vida que veio para nos trazer sabedoria. A superfície da água voltará a ficar lisa como um espelho, a areia levantada voltará ao fundo e voltaremos a sentir a plácida paz desse lago sagrado.
Maria Luisa Martins

terça-feira, 11 de setembro de 2012

O Amor Vira Lixo!!



 

De todas as peças escritas por William Shakespeare, Romeu e Julieta é indubitavelmente a que mais tem sido utilizada como tema para o desfecho trágico de um amor intenso que não sucumbiu na dor infligida pela sensação de perda. Hoje, você morreria de amor? Cansamo-nos. De lutar. De cair. De lamber as feridas. De abrir o armário e tirar o vestido mais bonito que compramos. Desistimos. Dormimos no sofá. Perdemos a vontade de sair. De comer. De apanhar bebedeiras. De viver. Mandamos mensagens às nossas melhores amigas a dizer que estamos a morrer. Julgamos que já batemos no fundo. E como ele é duro que nem uma pedra! A palavra amor, paixão e todo o seu campo lexical causam-nos vômitos. Arrumamos todos os presentes que nos deram no sótão. Queimamos as cartas e os postais. Apagamos as sms's. Riscamos as fotos. Perdemos anos, meses, dias de vida. Ganhamos experiência, mas nunca a contamos. No dia seguinte acordamos com dores na cabeça e no coração. Chamam-lhe desilusão. Só então percebemos que amamos mesmo. E que é tarde de mais para morrer logo ali. Só porque nos dói o coração e a cabeça. E porque sofremos de uma doença que não ataca as crianças. Queremos levantar-nos. Ir ao encontro dela. Talvez esta seja uma doença que se transmita. Mas não temos forças. A cabeça, que já dói, começa a doer ainda mais. E, como quando somos crianças, começamos a fazer mil e uma perguntas. Desta vez, a nós mesmos. Àquilo a que chamam consciência, voz do coração. Não temos respostas. Nem forças. Nem comprimidos que disfarcem as dores. Pedimos morfina. Voltar. Fechamos os olhos e, por momentos temos o flash da vida. Como se fossemos Pedimos uma tempestade que nos arraste daqui. E até isso nos negam. Estamos sozinhas. Com a desilusão. Nem a morte quer nada conosco. Não. A morte não aparece nestas alturas. Anda ocupada com doenças a sério. Hoje, morre-se por tudo e por nada, no entanto já ninguém morre de amor!
Maria Luisa

 
 

Dizer Adeus!!!!

 

Às vezes é difícil dizer adeus. Às vezes só se sente mais angustiada quem tem que dizer adeus, mas penso que em longo prazo geralmente seria uma boa idéia para deixar o que se tem sem grandes proporções, e que no caso seria isso o mais correto a se fazer. A gente tenta permitir espaço para coisas novas, para a transformação e principalmente pelo que te aguarda ali na frente, mas para quem tem o coração como maior órgão do corpo isso é quase que uma maldade. Talvez o adeus não seja mesmo para sempre, mas tu não podes saber até que tu realmente diga adeus. Em alguns casos, adeus é realmente o fim, e boa viagem! Mas há uma parte em mim que possui o conforto e a calmaria necessária que me faz não enlouquecer por ter que deixar muita coisa para trás, e essa parte sensata encoraja-me a dizer adeus a todas as coisas que eu preciso deixar ir: maus hábitos, pessoas mortas (aquelas que realmente vivem no nosso coração jamais mudarão de endereço), pessoas vivas, ex-namoradas, gente desinteressante, sentimentos auto-destrutivos, comportamentos, etc. Isso tudo pode ser muito injusto, dolorido, mas as minhas piores dores sempre serão as palavras que eu não posso dizer. Cada sentimento e palavra que guardo no peito ao invés de dizer, é como se um osso meu fosse quebrado automaticamente. Portanto, o sensato seria dizer por mais utópico, louco, romântico, idiota e surreal que seja. O correto seria dizer enquanto é tempo. O adeus pode ser tão longo ou tão curto quanto quiser. E, mais importante, é ter um momento com cada um para realmente dizer adeus. Isto não é um catálogo de medos e falhas, esta é uma cerimônia capitulada em forma de texto que o qual achei mais digna para me despedir. E mesmo que eu ou o mundo mude, sempre será amor. Mesmo que tu não passes de uma falsa-paixão-de-dez-segundos. Mesmo que, para isso, eu tenha que esquecer como é que se volta para casa. Mesmo que o mundo me peça para não ficar. Por ora, me despeço desse capítulo da minha vida. E estou receptiva para o que vem a seguir.
Maria Luisa

 

HAVERIA DE EXISTIR.

 

Acho que ninguém vai entender. Ou, se entender, não vai aprovar.
Existe em nossa época um paradigma que diz: enquanto você me der carinho e cuidar de mim, eu vou amar você. Então, eu troco o meu amor por um punhado de carinho e boas ações. Isso a gente aprende desde a infância: se você for uma boa menina, eu vou lhe dar um chocolate. Parece que ninguém é amado simplesmente pelo que é, por existir no mundo do jeito que for, mas pelo que faz em troca desse amor. E quando alguém, por alguma razão muito íntima, pára de dar carinho e corre para bem longe de você? A maioria das pessoas aperta um botão de desliga-amor, acionado pelo medo e sentimentos de abandono, e corre em direção aos braços mais quentinhos. E a história se repete: enquanto você fizer coisas por mim ou for assim eu vou amar você e ficar ao seu lado porque eu tenho de me amar em primeiro lugar. Mas que espécie de amor é esse? Em minha opinião é um amor que não serve nem a si mesmo e nem ao outro. Eu também tenho medo, dragões aterrorizantes que atacam de quando em quando, mas eu não acredito em nada disso. Eu digo a mim mesma que o mundo no qual eu acreditava haveria de existir em algum lugar do planeta!
Haveria de existir! Nem que este lugar fosse apenas dentro de mim... Mesmo que ele não existisse mais em canto algum, se eu, pelo menos, pudesse construí-lo em mim, como um templo das coisas mais bonitas que eu acredito, o mundo seria sim bonito e doce, o mundo seria cheio de amor. E, nesse mundo, ninguém precisa trocar amor por coisa alguma porque ele brota sozinho entre os dedos da mão e se alimenta do respirar, do contemplar o céu, do fechar os olhos na ventania e abrir os braços antes da chuva. Nesse mundo, as pessoas nunca se abandonam. Elas nunca vão embora porque a gente não foi uma boa menina. Ou porque a gente ficou com os braços tão fraquinhos que não consegue mais abraçar e estar perto.
Mesmo quando o outro vai embora, a gente não vai. A gente fica e faz um jardim, um banquinho cheio de almofadas coloridas e pede aos passarinhos não sujarem ali porque aquele é o banquinho do nosso amor, o nosso grande amigo... Para que ele saiba que, em qualquer tempo, em qualquer lugar, daqui a quantos anos, não sei, ele pode simplesmente voltar... Sem mais explicações, para olhar o céu de mãos dadas.
Maria Luisa