Quem é que nunca ouviu a expressão “a última bolacha
do pacote”? Costumamos usar esta expressão para falar daquela pessoa “metida”,
a que se acha a tal. É uma expressão muito usada e, não sei quem a inventou,
mas o fato é que ela existe. Esta expressão significa a mistura de duas
qualidades nada nobres: vaidade e egocentrismo. A pessoa que pensa ser a
“última bolacha do pacote” é aquela que tem uma visão distorcida de si mesma.
Pensa que é mais importante do que realmente é, acha-se a mais bonita e mais
rica, a mais inteligente, a mais elegante, a mais exuberante, a mais leal, a
mais educada, a mais confiante. Ela acha-se a única no mundo, uma raridade e
que tudo tem de girar à volta dela. Todas nós já fomos a casa de alguém ou
recebemos amigos em casa onde foi oferecido algum aperitivo. E, depois de todos
terem comido, sempre sobra o último... O que fazer com o “último do prato”? A meu ver, essa é uma
situação que coloca em jogo alguns valores pessoais. Sabemos que em momentos de
descontração, é comum as pessoas terem atitudes que, se houvesse tempo para uma
breve reflexão, talvez não aconteceriam. Pode ser exemplo disso aquela amiga
que resolveu ser sincera demais numa festa; uma palavra de mágoa para alguém
durante um passeio, brincadeiras maldosas...
E o que o “último do prato” tem a ver com isso? Tem que, diante da
vontade de comer, é normal o impulso para saciar a vontade mas, o que fazer em
relação aos outros que também estão presentes? Bem... Acredito que a primeira
reação de uma pessoa seja a vontade de comer, então é neste momento que os
nossos valores, criação e crenças são “colocados sobre a mesa”. Nós podemos ter
vários pensamentos:
_ “Que vontade de comer, está
tão bom!”;
_ “Hummm… melhor não! Alguém mais
poderá querer!”;
_ “Ah! Não tem ninguém
olhando!”;
_ “Acho que vou perguntar se
alguém vai querer o último mas... corro o risco de passar por “morta de fome”! No
momento que resta apenas um aperitivo no prato, e este torna-se alvo da
maioria, nós desenvolvemos vários pensamentos. Então escolhemos se vamos pensar
no outro, se vamos dar uma de espertinha com nossos amigos, se vamos ficar com
a fama de comilona, ou se vamos negar a nossa própria vontade. Até onde uma vontade da nossa parte pode
passar por cima da vontade do outro? Até onde o outro pode levar vantagem sobre
nós? Acho que essas respostas estão dentro de nós mesmas. Por certo, todas queremos sentir-nos o último
aperitivo do prato, sentirmo-nos únicas, especiais, desejadas e respeitadas,
mas é em
situações assim, tão simples, que a vida nos coloca à prova de nossas verdades
e de nosso caráter. De vez em quando, seria importante realizarmos reflexões
diante de nossas atitudes com as outras pessoas, para encontrarmos a imagem que
os outros tem de nós e sobre nossas atitudes. E para
quem se acha “a última bolacha do pacote”, devem lembrar-se de que,
contrariando o ditado popular, “a última bolacha do pacote” pode também
significar aquela que ninguém quis comer, pois está quebrada, esquecida e que, quando
se dá conta dela, já está amolecida, até mesmo estragada. E além do mais, para
todo aquele que “se acha”, Deus dará um jeito de mostrar que existe sempre
alguém melhor do que ele. Espero que depois de terem lido este
texto, alguém descubra, internamente, o que fazer com o “último do prato”.
Tão
bom ser por ser e não por ter!
Tão bom saber que se gostam de mim esse gostar vem da minha essência e não do
que posso dar ou provar.
Maria Luisa
“A última bolacha do pacote
não é a mais gostosa:
ou ela tá quebrada, esfarelada ou murcha!
E além do mais, no fim do pacote
a fome já até acabou.'”
GUN’S ROSE