quarta-feira, 27 de março de 2013

O ÚLTIMO DO PRATO





Quem é que nunca ouviu a expressão “a última bolacha do pacote”? Costumamos usar esta expressão para falar daquela pessoa “metida”, a que se acha a tal. É uma expressão muito usada e, não sei quem a inventou, mas o fato é que ela existe. Esta expressão significa a mistura de duas qualidades nada nobres: vaidade e egocentrismo. A pessoa que pensa ser a “última bolacha do pacote” é aquela que tem uma visão distorcida de si mesma. Pensa que é mais importante do que realmente é, acha-se a mais bonita e mais rica, a mais inteligente, a mais elegante, a mais exuberante, a mais leal, a mais educada, a mais confiante. Ela acha-se a única no mundo, uma raridade e que tudo tem de girar à volta dela. Todas nós já fomos a casa de alguém ou recebemos amigos em casa onde foi oferecido algum aperitivo. E, depois de todos terem comido, sempre sobra o último... O que fazer com o “último do prato”? A meu ver, essa é uma situação que coloca em jogo alguns valores pessoais. Sabemos que em momentos de descontração, é comum as pessoas terem atitudes que, se houvesse tempo para uma breve reflexão, talvez não aconteceriam. Pode ser exemplo disso aquela amiga que resolveu ser sincera demais numa festa; uma palavra de mágoa para alguém durante um passeio, brincadeiras maldosas...  E o que o “último do prato” tem a ver com isso? Tem que, diante da vontade de comer, é normal o impulso para saciar a vontade mas, o que fazer em relação aos outros que também estão presentes? Bem... Acredito que a primeira reação de uma pessoa seja a vontade de comer, então é neste momento que os nossos valores, criação e crenças são “colocados sobre a mesa”. Nós podemos ter vários pensamentos:
_ “Que vontade de comer, está tão bom!”;
_ “Hummm… melhor não! Alguém mais poderá querer!”;
_ “Ah! Não tem ninguém olhando!”;
_ “Acho que vou perguntar se alguém vai querer o último mas... corro o risco de passar por “morta de fome”! No momento que resta apenas um aperitivo no prato, e este torna-se alvo da maioria, nós desenvolvemos vários pensamentos. Então escolhemos se vamos pensar no outro, se vamos dar uma de espertinha com nossos amigos, se vamos ficar com a fama de comilona, ou se vamos negar a nossa própria vontade.  Até onde uma vontade da nossa parte pode passar por cima da vontade do outro? Até onde o outro pode levar vantagem sobre nós? Acho que essas respostas estão dentro de nós mesmas. Por certo, todas queremos sentir-nos o último aperitivo do prato, sentirmo-nos únicas, especiais, desejadas e respeitadas, mas  é em situações assim, tão simples, que a vida nos coloca à prova de nossas verdades e de nosso caráter. De vez em quando, seria importante realizarmos reflexões diante de nossas atitudes com as outras pessoas, para encontrarmos a imagem que os outros tem de nós e sobre nossas atitudes. E para quem se acha “a última bolacha do pacote”, devem lembrar-se de que, contrariando o ditado popular, “a última bolacha do pacote” pode também significar aquela que ninguém quis comer, pois está quebrada, esquecida e que, quando se dá conta dela, já está amolecida, até mesmo estragada. E além do mais, para todo aquele que “se acha”, Deus dará um jeito de mostrar que existe sempre alguém melhor do que ele. Espero que depois de terem lido este texto, alguém descubra, internamente, o que fazer com o “último do prato”.
Tão bom ser por ser e não por ter!
Tão bom saber que se gostam de mim esse gostar vem da minha essência e não do que posso dar ou provar.
Maria Luisa

“A última bolacha do pacote
não é a mais gostosa:
ou ela tá quebrada, esfarelada ou murcha!
E além do mais, no fim do pacote
a fome já até acabou.'”
GUN’S ROSE


1 comentário:

  1. Um belo texto que nos faz reflectir...
    O que somos na realidade e a imagem que queremos que os outros possam ter de nós ...

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