quarta-feira, 16 de maio de 2012

Chuva.



O dia esteve com cores cinzentas, o sol mal conseguiu romper por entre as nuvens e a chuva voltou a cair. Esteve um dia propício à explanação dos pensamentos e ideias. Não sei o motivo que me sinto com uma atmosfera envolvente para expelir o que de mais profundo tenho dentro de mim. As músicas acompanham-me, as palavras começam a fluir para esta folha em branco, o meu coração bate a um ritmo descansado e em paz, talvez enfeitiçado pelo chamamento das gotas da chuva que vão caindo no beiral do telhado, ora calmas, ora com mais força, deslizando por entre o ar, misturando-se com o vento, com os cheiros, com a pele, com a natureza.
Num Mundo tão atribulado são cada vez mais raros os momentos que temos oportunidades para conversarmos connosco, desabafarmos com o nosso Eu, desabafar com Deus. São nestas alturas que encontra respostas ou factores que desconhecemos ter. Por vezes temos a sensação que não nos conhecemos de tão ausentes que nos encontramos de nós mesmos, e é verdade. O Mundo consegue-nos contagiar e afeta quando não conseguimos ser sinceros. Negamos constantemente os nossos sentimentos mais intensos, os nossos pensamentos e os nossos ideais. Existe uma vergonha de assumirmos quem somos perante uma sociedade imperturbável, eu tento afastar-me deste conjunto, tento não ficar à espera de mais um dia chuvoso para que os meus pensamentos destilem na minha cabeça, quase imperceptível, mas com uma pureza e de única verdade. Hoje isso acontece. Hoje poderei escrever que estou só, não uma solidão com uma ausência de pessoas ou de mim, mas uma solidão que ao ver a chuva cair, faz com que pense em você. Aliás, penso em você todos os dias, todas as horas e a todos os momentos. Te vejo na minha direção com um sorriso doce, um brilho no olhar e ouço dizer que sou a sua linda. Vejo você deitar junto a mim na mesma cama que já nos uniu e você me diz que tem frio, com um olhar terno, enquanto eu te acaricio o cabelo. Te abraço com todas as minhas forças… Olho a chuva, mas não já não te vejo, está frio e eu deixei de sentir o seu calor. Melhor que tudo era a sua presença, a sua simples companhia bastava para aquecer a minha alma e inundar o meu espírito de alegria. Agora a chuva cai com mais intensidade, o vidro enche-se com milhares de gotas, não deixando lá fora o Mundo visível. As horas passam, a chuva continuar a cair, as lembranças permanecem. Se te encontrar não vou saber o que dizer, importará saber? Ficarei sem reação e contemplarei o seu rosto. Eu gosto tanto de ti! Continuo a te escrever porque a atmosfera que me envolve vai de encontro ao meu estado de espírito e apenas este papel é capaz de entender, acompanhar o correr dos meus pensamentos. Sempre fui muito sensível a escrever, você sabe, mais ainda quando o motivo da escrita é você. Aliás, se hoje escrevo mais foi pelo motivo de me ter incentivado. Queria que utilizasse o meu dom. Lembra? Eu não esqueci. Por isso contínuo a escrever onde quer que esteja, enquanto as minhas forças permitirem, eu irei te escrever. Agora que não estás, mais ainda, só a escrever consigo preencher o vazio que você deixou. A vida é tão simples dita por palavras! Se eu conseguisse dizer tudo o que vai na minha alma, tudo aquilo que estou a escrever, provavelmente hoje desfrutaríamos juntas este dia chuvoso. Mas eu agora estou só e só vou continuar até este dia chuvoso chegar ao fim.
Maria Luisa

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